
Vício em jogo
- Fernando Lemos
- 1 de jun. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 14 de jun. de 2024
Tem se tornando cada vez mais frequente relatos de pessoas que perdem todas suas economias em jogos de azar, como o "Jogo do Tigrinho", apostas esportivas e similares. Muitos já consideram uma questão de saúde pública, dada tamanha frequência de apostas e consequências avassaladoras relacionadas ao vício do jogo. Fatores como negação, vergonha, medo das consequências e falta de conscientização, dificultam de o indivíduo, sua família e amigos de encararem o problema e tomarem ações consistentes.
Do ponto de vista da psicanálise, o vício em jogos é visto como um sintoma que pode revelar conflitos inconscientes, ou seja, conflitos "imperceptíveis" ao paciente, e dinâmicas emocionais profundas.
O vício em jogos pode ser uma forma de fugir de sentimentos dolorosos ou conflitos internos. Por exemplo, uma pessoa que experimenta intensa ansiedade no trabalho ou em suas relações familiares, pode usar os jogos como uma forma de fuga, evitando confrontar a fonte real de sua ansiedade. O jogo pode ser visto como uma busca pelo prazer e, uma forma de gratificação imediata representada pelo "dinheiro fácil". Freud descreveu o conceito de "compulsão à repetição", onde os indivíduos repetem comportamentos dolorosos ou destrutivos, tal como uma pessoa que sofreu uma perda traumática pode repetir compulsivamente o ato de jogar, tentando inconscientemente dominar o sentimento de perda ao experimentar repetidas vezes a possibilidade de ganhar e perder dinheiro.
Esse vício, também pode ser uma forma de construir ou reforçar uma identidade. Uma pessoa pode se sentir inadequada em outros aspectos da vida, mas pode se identificar fortemente como "jogador", obtendo um senso de pertencimento e autoestima que ela não encontra em outros lugares.
Um psicanalista ajuda a pessoa com vício em jogo através de uma série de intervenções e técnicas terapêuticas que, visam explorar e resolver os conflitos emocionais subjacentes ao comportamento repetitivo. Seu trabalho traz à consciência os conflitos e emoções inconscientes que estão contribuindo para o vício. Ao entender o que o jogo representa para o paciente, o psicanalista pode ajudar a desvendar as motivações inconscientes por trás do vício. O paciente pode transferir sentimentos e comportamentos relacionados ao jogo para o analista, permitindo que essas dinâmicas sejam exploradas e compreendidas em um ambiente seguro, SEM JULGAMENTO.
A psicanálise, ao promover o autoconhecimento do paciente, ajuda-o a desenvolver melhores mecanismos de defesa e habilidades de enfrentamento. O paciente consegue aprimorar suas técnicas para aumentar a sua capacidade de tolerar frustações e ansiedades, construindo novas narrativas e significados para suas experiências e comportamentos. Ao recontextualizar o papel do jogo na vida do paciente, o psicanalista ajuda a promover uma visão mais saudável de si mesmo e de suas motivações. A partir daí ele começa a estabelecer limites claros e saudáveis em relação ao jogo.
Antes de reconhecer que precisa de ajuda, o paciente pode usar de vários mecanismos, como a racionalização, afim de "minimizar danos", e encontrar "justificativas" para continuar jogando, criando argumentos como: "é só uma má fase" ou "preciso insistir um pouco mais que as sorte vai mudar". Para isso, é importante um apoio empático, seguro e sem julgamento, fornecendo informações sobre os recursos disponíveis.
A intervenção de amigos, familiares e profissionais da saúde mental pode ser crucial para superar essas barreiras e encorajar a pessoa a procurar o tratamento necessário.
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